PREMONIÇÃO 6 - LAÇOS DE SANGUE É O RETORNO DAS MORTES MAIS CRIATIVAS DO CINEMA

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A franquia Premonição sempre brincou com o medo universal do que não se pode evitar. Foto: Divulgação
Por Vinícius Bastos
Tem gente que não pode ver uma escada encostada em parede de obra que já imagina o cenário: o vento bate, a escada cai, atinge uma vidraça que despenca, o vidro espatifa na cabeça de alguém, que tropeça e… bom, você entendeu. Esse impulso meio doentio, meio inevitável, de imaginar a própria morte em situações cotidianas é, talvez, a razão de existir da franquia Premonição — e o motivo pelo qual ela continua viva (e matando) depois de tantos anos.
Desde o primeiro filme, lançado em 2000 — que, curiosamente, começou como um roteiro especulativo para um episódio de Arquivo X — a ideia sempre foi simples e genial: não há assassino, não há criatura sobrenatural com máscara. O vilão é a própria Morte, inevitável, impessoal e paciente. Ela erra uma vez, quando um protagonista tem uma premonição e salva um grupo de pessoas, mas logo começa a “corrigir” o erro, uma por uma, com acidentes elaborados, violentos e, com o tempo, cada vez mais cômicos.
A franquia Premonição sempre brincou com o medo universal do que não se pode evitar. E se no começo a franquia tinha um tom sombrio e quase filosófico sobre destino, culpa e sobrevivência, com o tempo ela se assumiu como aquilo que o público queria mesmo ver: uma coletânea de mortes estilo Rube Goldberg, onde a torradeira, o tapete e o ventilador de teto formam uma conspiração mortal contra os pobres personagens.
O novo filme não tenta reinventar essa fórmula — e talvez esteja certo em não tentar. Mas ele traz uma pequena, porém eficaz, mudança: desta vez, não são desconhecidos que escapam da tragédia, mas uma família. Isso adiciona uma camada mínima de vínculo emocional e também justifica o outro acerto do filme: a protagonista, descendente de uma sobrevivente de um acidente antigo, já conhece as regras do jogo, pois herdou da avó tanto as visões quanto uma compreensão quase metalinguística de como tudo vai acontecer — o que transforma boa parte do filme numa dança nervosa entre o inevitável e a tentativa de escapar.
O roteiro até tenta cavar mais fundo, ensaiando uma reflexão sobre “trauma geracional” — mas tropeça nas próprias intenções, sem muita convicção. É uma ideia jogada ali, sem desenvolvimento real, e que parece existir só para dar à história um verniz de profundidade que nunca chega. O elenco, por sua vez, não ajuda muito: carismas limitados, arcos quase inexistentes, e zero chance de desenvolvimento — mas, sejamos honestos, ninguém vai a um Premonição esperando atuações memoráveis. Eles estão ali para morrer, e o filme sabe disso.
Visualmente, no entanto, o novo Premonição é uma festa sádica. As mortes são espetaculares, coreografadas com o tipo de precisão cruel que só a Morte (e uma boa equipe de efeitos visuais) consegue planejar. Cadeiras assassinas, utensílios domésticos mortais, rachaduras improváveis que levam a colapsos brutais — tudo está aqui, funcionando como uma coletânea de vinhetas de terror criativo.
No fim, o filme não quer subverter a fórmula. Não quer ser mais do que é. E esse talvez seja seu maior mérito: ele aceita — e até celebra — a própria previsibilidade absurda. Como se dissesse: “você sabe exatamente o que vai acontecer... agora sente e aproveite.”
E é exatamente isso que Premonição oferece: entretenimento leve, sádico e eficiente. Um desfile de armadilhas complicadas, mortes rápidas e diversão sangrenta — onde ninguém escapa, nem da Morte, nem do prazer culposo de assistir tudo isso acontecer.